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A Ópera Maldita

Beirando os 80 anos, Andrea Camilleri é um dos grandes nomes da cultura italiana contemporânea, escritor e autor de roteiros para televisão e mais um pouco de tudo. Sua literatura se divide basicamente em duas vertentes: os policiais de grande sucesso de público, protagonizados pelo detetive Salvo Montalbano (homenagem ao escritor espanhol Vásquez Montalban), e os romances picarescos, todos ambientados em sua Sicília natal. Neste último gênero, que já rendeu deliciosas histórias, como Por uma linha telefônica, acaba de sair, pela Bertrand Brasil, A ópera maldita. O estilo de Camilleri por si já é uma atração à parte, pela ironia, pelo recorte crítico que faz a um meio social situado em meados do século 19, mas que desvenda a alma do povo italiano com incrível atualidade. Fora isso, a trama do livro garante boas risadas, por toda a situação envolvida: disputas de poder, inveja, intrigas, adultério, maledicência, violência explícita ou velada.

Tudo começa com a rivalidade entre duas cidades sicilianas: a pequena e portuária Vigàta e a capital da província, Montelusa. O prefetto (representante do governo central) da cidade praiana impõe, para a inauguração do novo teatro, a representação da ópera Il birraio di Preston, de Luigi Ricci, repudiada pela população local. Às diatribes em torno de estilos líricos, da qualidade dos intérpretes, da trama operística, do conhecimento musical de habitantes de cada localidade, se juntam diferenças de temperamento e sotaque entre sicilianos, calabreses, romanos, piemonteses e as variadas regiões que recentemente se haviam juntado em torno da unificação da Itália. Ação de mafiosos e disputas entre defensores do rei e da república põem lenha na fogueira, com o envolvimento de praticamente toda a população na disputa em torno da ópera.

O resultado é tragédia, com a repressão da polícia aos que queriam deixar o teatro antes do fim da função e o incêndio criminoso da casa de espetáculos logo após a confusão. Os diversos personagens apresentados ao longo da trama vão encontrando destinos que vão do trágico ao cômico, com saldo de três mortos e conseqüências políticas e pessoais para todo mundo.





Last modified Saturday, July, 16, 2011