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A forma da água

O sabor satírico do relato e a habilidade de Camilleri, revelam-se desde as primeiras páginas de uma mordacidade arrebatadora. No espaço de apenas um capítulo, transportado pelo vento alegre do escárnio, do humor e da ironia, o leitor vê-se mergulhado na história e nos costumes de uma pequena cidade da Sicília, Vigàta, semelhante como duas gotas de água à cidade natal do autor.

Será no Bercail – um grande terreno vago na periferia da cidade transformado num paraíso para drogados, traficantes e prostitutas desde que o ministro do Interior transferiu para a cidade um enorme reforço de soldados a fim de “controlar o território” – que dois jovens "operadores ecológicos" descobrirão, num mar de preservativos que têm que recolher todas as manhãs, o corpo do engenheiro Luparello, padrinho político da região. Apressam-se a dar conta do seu macabro achado, não aos carabinieri mas ao comissário Salvo Montalbano, siciliano de pura gema.

O comissário Montalbano, à semelhança dos seus compatriotas, vendo-se confrontado com a irredutível insuficiência da lei e a débil autoridade do Estado Italiano face aos interesses dos negócios político-mafiosos, acaba por não prender ninguém no final das suas inquirições, não hesitando perante a tentação de "solucionar as coisas" à sua maneira...

Acompanhar nas suas investigações o comissário Montalbano – polícia de bom coração, pachorrento, desencantado mas sem azedume –, é um enorme prazer e um autêntico e entusiasmante divertimento para o leitor.





Last modified Saturday, September, 20, 2014