home page Camilleri 100





Un mês com Montalbano

Uma das formas mais populares e ao mesmo tempo mais difíceis de se exercer a literatura é o gênero policial. Invariavelmente calcado na capacidade ou incapacidade de seus protagonistas, inspetores, detetives, policiais e curiosos em geral, o enredo depende muito do talento do autor para não se transformar num monólogo desinteressante. É justamente através desta capacidade equilibrada que se ajusta o sucesso do comissário Salvo Montalbano – criação do italiano Andrea Camilleri, também roteirista e diretor de cinema e teatro –, cujo pensamento pode agora ser lido em Um mês com Montalbano (Record, 336 págs., R$ 35), reunião de 30 noveletas escritas entre 1996 e 1998, algumas sob encomenda. Desde que resolveu dedicar-se à literatura, em 1978, o autor foi construindo a imaginária cidade de Vigàta, onde o comissário atua. Cético, mas realista, Montalbano passa boa ou quase a maior parte do tempo esgrimindo com a máfia e a Igreja, medindo forças com o elevado senso de honra que ironicamente anda de braços dados com a corrupção mais deslavada. Quarentão boa-pinta, Montalbano não se curva somente à beleza. É um leitor apaixonado. Em A sigla, por exemplo, ele recorre a Edgar Allan Poe. Também relembra a fábula de Ândrocles e o leão da pata ferida, em O que Aulo Gélio contou, e a história em quadrinhos Pafúncio e Marocas, em O aviso. Amigo de Adolfo Celi, Giani Ratto e Maria Della Costa, três importantes figuras ligadas ao teatro brasileiro, Andrea Camilleri esteve no Brasil no início da década passada dirigindo peças de Pirandello. Com certeza deve ter embutido um pouco do espírito tropical em suas tramas, o que em parte explicaria a empatia provocada nos leitores tupiniquins.





Last modified Saturday, December, 10, 2016